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Febre Reumática

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Febre Reumática

A Febre Reumática (ou Moléstia Reumática) é uma doença inflamatória autoimune que pode comprometer principalmente as articulações, a pele, o coração e o cérebro de crianças, mais frequentemente na faixa de 5 a 15 anos.

Qual é a causa da Febre Reumática?

A Febre Reumática ocorre por uma uma reação a uma infecção de garganta ocasionada por um subtipo específico de uma bactéria conhecida como estreptococo. Essa infecção de garganta é caracterizada clinicamente por febre, dor na garganta, gânglios (linfonodos) aumentados no pescoço e vermelhidão com pontos ou placas de pus na garganta. A criança, geralmente maior de 3 anos de idade, poderá apresentar a infecção de garganta como qualquer outra criança e, geralmente, uma a quatro semanas depois começa a apresentar os sintomas e sinais da Febre Reumática.

Qualquer criança que tem infecção de garganta pode apresentar Febre Reumática?

Não necessariamente. É necessário predisposição genética para apresentar a doença, associado a infecção pela bactéria estreptococo de grupo específico causador da doença.

Quais são os principais sinais e sintomas da Febre Reumática?

A manifestação mais freqüente é a artrite que se caracteriza por dor intensa, edema articular e calor. As articulações mais afetadas costumam ser os joelhos e tornozelos. É comum a dor e as outras alterações passarem de uma articulação para outra permanecendo de 2 a 3 dias em cada uma. A segunda manifestação da Febre Reumática é o comprometimento do coração (cardite) caracterizado por inflamação na membrana que reveste o coração, no músculo cardíaco ou em suas válvulas. Clinicamente podemos detectar essa manifestação pelo sopro cardíaco, pelo aumento da freqüência dos batimentos e pelas queixas de cansaço aos esforços. Este é o comprometimento mais importante porque pode deixar seqüelas. A terceira manifestação é a Coréia que se caracteriza por movimentos dos braços e pernas que pioram quando a criança fica tensa e desaparecem durante o sono. É importante saber que esta manifestação da febre reumática pode vir isolada (sem a artrite e/ou cardite) e tardia, aparecendo meses após o quadro da infecção de garganta. Podemos ainda encontrar outros sinais e sintomas tal como febre, artralgias, manchas de pele (eritema marginado) e nódulos em subcutâneo (abaixo da pele).

A criança com Febre Reumática sempre tem febre?

Nem sempre. Ela aparece com maior freqüência durante a infecção de garganta e não necessariamente quando ela começa a apresentar as manifestações da Febre Reumática.

Como se faz o diagnóstico da Febre Reumática?

Pelos sinais e sintomas que a criança vem apresentando nos últimos dias, ou seja, da presença de dor ou inchaço nas articulações, sopro cardíaco ou da coréia associada às alterações nos exames de sangue que podem comprovar a presença de inflamação: velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR). A presença de infecção de garganta antes do início das alterações articulares ou cardíacas é muito importante para o raciocínio clínico e poderá ser comprovada pela elevação na dosagem da anti estreptolisina O (ASLO). Em alguns casos essa infecção pode passar despercebida ou com sintomas leves.
Outros exames complementares podem ser necessários para auxiliar o diagnóstico, tais como o eletrocardiograma (ECG) e o Ecocardiograma com doppler.

A presença do exame da ASLO aumentada dá o diagnóstico de Febre Reumática?

Não. A Antiestreptolisina O (ASLO) é um anticorpo que o nosso organismo produz para combater o estreptococo durante ou logo após uma infecção de garganta. Portanto, ela serve apenas para nos dizer se a criança teve infecção por esta bactéria recentemente. Na ausência das manifestações cínicas típicas da Febre Reumática a ASLO não tem qualquer valor para o diagnóstico desta doença. Estima-se que aproximadamente 80% das crianças com infecção de garganta prévia pelo estreptococo podem apresentar elevação da ASLO e somente 3% delas poderão apresentar Febre Reumática. É importante lembrar que a presença de dor nas pernas e ASLO elevado não significam febre reumática.

Como é o tratamento da Febre Reumática?

O tratamento será direcionado conforme as manifestações clínicas da doença. Para o quadro articular utilizamos antinflamatórios ou o ácido acetilsalicílico (AAS). Para manifestações cardíacas é necessário lançar mão dos corticóides. Para a manifestação neurológica da Coréia utiliza-se o haloperidol e/ou o valproato.
É importante ressaltar a necessidade de tratamento adequado da infecção inicial de garganta pelo estreptococo que origina o quadro, a qual chamamos de profilaxia primária da Febre Reumática. Para prevenção de novos surtos da doença indica-se a profilaxia chamada de secundária, habitualmente realizada com a penicilina benzatina a cada 21 dias.

Por quanto tempo a criança com Febre Reumática deverá utilizar a penicilina?

Depende da forma de apresentação da doença. Para os casos onde não há comprometimento dos tecidos do coração,utiliza-se a penicilina habitualmente por 5 anos ou até completar 21 anos. Em caso de comprometimento cardíaco sua utilização deve ser indicada por mais tempo, em alguns casos indefinidamente de acordo com a gravidade do caso e riscos de nova exposição ao estreptococo.

Quais as complicações que a criança pode apresentar se tomar a penicilina por muito tempo?

O maior inconveniente desta medicação é a dor no local da aplicação intramuscular (nádegas). Não há qualquer efeito indesejável para o crescimento, para o esmalte dos dentes ou mesmo para os ossos da criança. Também não se tem observado resistência da bactéria (estreptococo) com o uso prolongado desta medicação.

E quanto a alergia à peniclina?

Alergia à peniclina é muito rara, em torno de 1,5% a 3%. Nas crianças com menos de 12 anos as reações alérgicas graves (choque anafilático) são mais raras ainda, estando na faixa de 0,7%.

Qual o principal problema em caso de surtos recorrentes de Febre Reumática?

A probabilidade de ocorrer comprometimento do coração vai aumentando na medida em que outros surtos vão aparecendo assim como agravamento das lesões cardíacas preexistentes, podendo ser necessária cirurgia para troca da valva cardíaca acometida com o passar dos anos.

AUTOR:

Dr Leonardo Michaelis Schmidt

REUMATOLOGISTA
CRM-PR 22661/ RQE 15289

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